Revista Veja faz crítica positiva sobre Hair


Versão brasileira do musical "Hair" encanta, mas evita riscos


Certas peças resistem ao tempo mais pela simbologia do que pela qualidade da dramaturgia. Escrito em 1967 por Gerome Ragni e James Rad, o musical “Hair” revela-se um bom exemplo. Composta por Galt MacDermot, a trilha traz 35 canções, como “Aquarius” e “Good Morning Starshine”, e habita o imaginário do público. Remontada pelos diretores Charles Möeller e Claudio Botelho, a ode à liberdade — lançada em 1968 e encenada pela primeira vez no Brasil no ano seguinte — mantém o encanto graças ao talento e ao profissionalismo da dupla de adaptadores, mas pouco atualiza o discurso e evita correr riscos.

Em cena surge uma tribo de hippies de Nova York, levando a vida no estilo sexo, drogas e rock and roll. A Guerra do Vietnã bate à porta de Claude (o promissor Hugo Bonemer), convocado para o conflito. Seus amigos, Berger (Fernando Rocha, expressivo), Jeanie (Kiara Sasso, que estreou no elenco na temporada paulistana e ainda escorrega na caricatura) e Sheila (Carol Puntel, protagonista do melhor solo, “Fácil Ser Assim”), também desafiam universos particulares em nome do coletivo. Como conjunto, a encenação se engrandece. Os trinta atores formam um significativo grupo no qual todos cantam e dançam com técnica e afinação as músicas versadas para o português. Os figurinos de Marcelo Pies reforçam o colorido, e as coreografias de Alonso Barros garantem o caráter de um grande show. Como mito, “Hair” mostra que continua vivo. Cientes disso, Möeller e Botelho reafirmam sua competência ao oferecer ao espectador um contagiante mergulho no tempo, comprovado no número final, “Deixa o Sol Entrar”.



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